ONDE VIVEM OS MONSTROS

ONDE OS INVENTAMOS

O CUIDADO DE SI E O CORPO SEM ÓRGÃOS

QUANDO NOS DEPARAMOS COM O CONCEITO DE LIBERDADE EM FOUCAULT E DELEUZA & GUATTARI, TEMOS QUE PARTIR DO PROSSUPOSTO QUE A VIDA NÃO PODE SER ANALISADA DO PONTO DE VISTA MATERIAL, OBJETIVO, OU SEJA, COMO PRODUTO, PRONTA, POIS DESSA FORMA NÃO EXISTE A POSSIBILIDADE DE LIBERDADE, POIS SOMENTE A VIDA COMO ARTE PODE FUGIR AO DETERMINISMO DOS JOGOS DE PODER.
PARA ESSA EMPREITADA TEMOS QUE RECORRER A DOIS OUTROS CONCEITOS: O CUIDADO DE SI (DITOS E ESCRITOS VOL. 5) E O CORPO SEM ÓRGÃOS; ESSE CORPO NÃO ALHEIO A VIDA, A SUBJETIVIDADE, MAS A VIDA NO SENTIDO DE EXPERIMENTAÇÃO.
ESSE CONCEITO DE CUIDADO DE SI APRESENTADO POR FOUCAULT NA HISTÓRIA DA SEXUALIDADE III E EM MANUSCRITOS E NA HERMENÊUTICA DO SUJEITO, DESCREVE UM SUJEITO QUE SE PERMITE EXPERIMENTAR A VIDA COMO ARTE, EM SUA SUBJETIVIDADE E POTENCIALIDADE.
A PARTIR DA TRANSMISSÃO RADIOFÔNICA DO POETA E CINEASTA ARTAUD "PARA ACABAR COM O JULGAMENTO DE DEUS" TEMOS UMA DISCUSSÃO CENTRADA NA ESCRAVIDÃO EXISTENCIAL HUMANA ONDE DEUS É COLOCADO COMO ALGUÉM QUE AO ROUBAR O CORPO DO HOMEM QUIZ IMPOR AO SUJEITO UM JULGAMENTO. PORTANTO, PARA DELEUZE & GUATTARI, A SAÍDA SERIA A IDÉIA DO CORPO SEM ÓRGÃOS, OU SEJA LUTAR PELA VERDADEIRA LIBERDADE ESTARIA EM LIBERTAR O CORPO NO VIRTUAL, ABRIR OS AFLUXOS.
O CORPO ESTÁ APRISIONADO NUMA CAMISA DE FORÇAS, ASSIM O CORPO SEM ÓRGÃOS, O NÃO DESEJO, ASSIM COMO O CUIDADO DE SI, TAMBÉM É UMA PRÁTICA, UM CONJUNTO DE PRÁTICAS INACABADO NUM MOVIMENTO PARA A SUBJETIVIDADE, EXPERIMENTAÇÃO (NÃO SÓ RADIOFÔNICA), MAS BIOLÓGICA E POLÍTICA, DE SUPERAÇÃO DA SENSURA E REPRESSÃO DA CORPOREIDADE OBJETIVA. (PAG. 8 E 9 DE MIL PLATÔS).
NA LÓGICA DOS SENTIDOS E MIL PLATÔS, DELEUZE & GUATTARI DESENVOLVEM A IDÉIA DO CORPO SEM ÓRGÃOS NA VIRTUALIDADE: "TODO CORPO REAL TEM UM DIMENSÃO VIRTUAL (...) A SER EXPLORADO. (...) VASTO SETOR DE POTENCIALIDADES".
PARTINDO DO PLANO DA IMANÊNCIA, EXISTEM DETERMINISMOS, PORÉM O EXPERIMENTALISMO ME DÁ POSSIBILIDADES PARA ALÉM DO DETERMINISMO DIVINO.
NA MESMA LINHA, FOUCAULT, NA HERMENÊUTICA DO SUJEITO DESENVOLVE O CUIDADO DE SI (OPOSTO A ESSE CONCEITO SOCRÁTICO) COMO UM AGUILHÃO CRAVADO NA CARNE DO HOMEM, CRAVADO NA SUA EXISTÊNCIA. UMA AGITAÇÃO, UM PRINCÍPIO DE INQUIETUDE NO CURSO DA EXISTÊNCIA, NUMA DUPLA ARTICULAÇÃO ONDE A POTENCIALIDADE SE DÁ NA RELAÇÃO VIDA E CORPO VIRTUAL, PORÉM TENTA TRANSGREDIR A NORMATIZAÇÃO E BUSCAR UMA EXPERIMENTAÇÃO. NÃO SE TRATA DE ATINGIR A VIDA, PÓS MORTE, ETERNA

SOMOS CYBORGS NATURAIS

Relação homem máquina (uma discussão presente em Andy Clark, AI, Blade Runner: o caçador de andróides, Cyborg 2, entre outros)

Natural-born Cyborg

 

A relação entre homem e máquina pode ser entendida como uma forma múltipla de desenvolvimento, ou seja, uma relação recíproca de homem e máquina que se modificam mutuamente. Pois, ao mesmo tempo em que a máquina é uma extensão das necessidades humanas, ela também pode ser a causadora, depois de introjetada no meio social, a uma imposição de necessidade aos humanos.

Como exemplo temos a necessidade da comunicação que gerou máquinas como telégrafo, telefone, telefone sem fio, celular, e que levam até a uma fabulação de uma possível/futura comunicação telepática ou um chip que introduzido no indivíduo levasse-o a comunicar-se com outros sem necessidade de aparelhos externos.

Para Clark, os artefatos revelam o criador, desse modo, as características humanas ontológicas estariam representadas pelos objetos que ele desenvolveu para exteriorizá-las, sendo assim a curiosidade (telescópio), violência (arma), comunicação (telefone), por exemplo, estariam representadas e fossem apropriados por outras pessoas para representar a sua subjetividade complexa.

Visto nesse aspecto, a Tecnologia estaria construída numa relação recíproca e linear. Logo, para entender tecnologia tem que entender o homem e vice-versa, pois conhecemos o homem pela tecnologia que utiliza. Portando, a relação “homem e tecnologia” pode ser entendido como um sistema (d)estendido. A tecnologia não faz parte natural de nós, mas ela é que nos garante e nos identifica: somos cyborgs naturais?

Temos então que pensar nesse conceito humano: plástico e adaptável e no quanto se torna tênue e inseparável a linha entre criador e criatura. (homem dependente da máquina).

Será que esse conceito pode ser entendido como Soft self – mente estendida, como sendo a máquina uma extensão da mente humana?

Se for assim, como pensar o aspecto ético: tecnologia inserida no contexto de desigualdade (apartheid tecnológico), onde ela (a tecnologia) como uma possibilidade da extensão da mente não estar disponível material e cognitivamente a todos?

A tecnologia é um engodo tanto quanto a razão, ou seja, com ela estamos vivendo num campo de concentração (tecnologia nos restringe), pois ela nos aparece com uma pretensão de liberdade/facilidade, do qual não dá conta, ou muito pelo contrário, ficamos reféns da mesma?

São questões que gosto de pensar além da enfadonha realidade das ações cotidianas, ações que se realizam com ou sem prazer, com ou sem reflexão, com ou sem superação.

IVAN LINS

HOJE, OUVINDO O RÁDIO DO CARRO A CAMINHO DA AULA DE INGLÊS, SINTONIZADA NA RÁDIO USP, UMA ENTREVISTA DE IVAN LINS, SEUS BONS E MAUS TEMPOS, PARCERIAS E SEUS 40 ANOS DE CARREIRA, COM CANÇÕES QUE MARCARAM PELA QUALIDADE DAS LETRAS E DOS ARRANJOS.
GOSTO DE ALGUNS DE SEUS TRABALHOS
ENTRE ELES: A NOITE
http://www.youtube.com/watch?v=GdQG-at8Fsk
(VALE A PENA OUVIR)

A noite
Ivan Lins

Composição: Ivan Lins/ Vítor Martins

A noite tem bordado
Nas toalhas dos bares
Corações arpoados
Corações torturados
Corações de ressaca
Corações desabrigados demais

A noite tem falado
Nas cadeiras dos bares
De paixões afogadas
De paixões recusadas
De paixões descabidas
De paixões envelhecidas demais

A noi...te traz no rosto sinais
De quem tem chorado demais

A noite tem deixado
Seus rancores gravados
À faca e canivete
À lápis e gilette
Por dentro das pessoas
Por dentro dos toilettes e mais
Por dentro de mim

A MICROFÍSICA DA LOUCURA

(DIA ENTARDECENDO)
- Que loucura conseguirmos fugir este final de semana!
Iniciou tímido a conversa, depois de uma viagem tensa e silenciosa.
- Não foi loucura...
Interrompeu ela com ironia.
- Então foi o quê?
Ele provocou.
- Chame sorte ou felicidade ou um presente que merecíamos e faz muito tempo...
Falou ela com euforia.
- Você e essa maldita contagem dos anos, meses, dias, horas, minutos e segundos.
Irritou-se com a cobrança.
- Sim, tem razão, eu adoro e odeio o tempo desde o dia em que te percebi...
Justificou ela com cautela, não queria estragar aquele momento, era típico dela esses rompantes infantis.
- Por que não desde o dia em que me conheceu?
Questionou sua memória, o grande trunfo dele e a pior inimiga dela.
- Porque quando te conheci, não te reconheci como sendo "você"... era um entre tantos... um nome, uma aparência que logo esqueceria junto com os demais, estava imerso em um saco de mesmices da rotina do ofício.
Devaneou lembrando de como estavam, agarrada mais a memória dele do que a dela, assim ele usava as palavras com ele, num jogo doce e sincero.
- Adoro quando falamos de como nos percebemos como hoje.
Ele sorriu entre as palavras, abrindo a porta do carro pra ela e ajudando-a com as poucas malas para o final de semana. Foram em direção ao chalé tocando-se com os braços ocasionalmente, mãos ocupadas com a bagagem, uma grande porção de ansiedade e um esforço enorme pra estar ali por completo. Entardecia de modo preguiçoso como o horário de verão. Ela continuou a conversa.
 (ÚLTIMOS RÁIOS DE SOL NO HORIZONTE AVERMELHADO)

ANGÚSTIA MATERNA

POR QUE MEU ANJO TEM QUE ARDER EM FEBRE?
POR QUE MINHA BAILARINA TEM DOR?
POR QUE MINHA FADA TEM INSÔNIA?
POR QUE MINHA MENINA É INAPETENTE?
POR QUE MINHA FILHA TEM ONICOFAGIA?
POR QUE OS FILHOS ADOECEM?
A MEDICINA É UM ENGÔDO: NÃO TEM DIAGNÓSTICO.
É SEMPRE UMA POSSIBILIDADE, UMA INVESTIGAÇÃO, UMA SUSPEITA.
EXAMES, NOMES, ACHISMOS, CHEIA DE SUBJETIVISMOS HUMANOS.
REMÉDIOS, DIETAS ALIMENTARES, CONDICIONAMENTOS E MANUAIS.
NÃO PASSAM DE ESPECULAÇÕES.
TANTO ESTUDO PRA NADA, ACERTO E ERRO, COBAIAS INDIVIDUAIS PRA TRATAMENTOS UNIVERSAIS.
TUDO ACABA NA CULPA DA PACIENTE: DOENÇA PSICOSSOMÁTICA.
UMA PEQUENA E DOCE MENINA QUE CARREGA A CULPA DE CAUSAR MAL PRA SI MESMA: SÍNDROME AUTO-IMUNE ACENTUADA POR PRÉ-DISPOSIÇÃO PSICOSSOMÁTICA.
SE FOSSE COMIGO, ADULTA E RESPONSÁVEL POR MEU DESTINO, TUDO BEM, JÁ ESTOU CALEJADA POR ESCOLHAS INFELIZES E AS CONSEQUÊNCIAS DELAS.
MAS, A MEDICINA TÃO JUDAICO/CRISTÃ, SEMPRE USANDO DE ARTIFÍCIOS DE CULPA E CASTIGO, CAUSA E EFEITO, PRETENSIOSA EM SUA DIVINDADE CAPENGA, COVARDE E, MUITAS VEZES, CRUEL PREFERE CULPAR MINHA FILHA, COLOCANDO SOBRE SEUS OMBROS NÃO SOMENTE A CAUSA DOS SEUS MALES COMO TAMBÉM A RESPONSABILIDADE PELA MELHORA DO SEU ESTADO: "ELA VAI APRENDENDO A LIDAR COM O PROBLEMA E CONTROLANDO SEU EMOCIONAL".
ESTOU, PARTICULARMENTE HOJE, ODIANDO AINDA MAIS A MEDICINA E AS CIÊNCIAS DITAS EXATAS, QUE DE CERTEZAS E VERDADES ESTÃO TÃO DISTANTES QUANDO AS CIÊNCIAS DITAS HUMANAS, POIS AMBAS SÃO CONSTRUÍDAS PELAS MENTES E MÃO IMPERFEITAS DO HOMEM.
(QUATRO NOITES SEM DORMIR, OITO HORAS NO HOSPITAL COM ELA NO COLO, ESTOU NO MEU LIMITE)

CASTRADORA MORAL DO REBANHO

QUANDO VOLTAVA DA AULA DA FACULDADE SÁBADO, ENTRADA DA NOITE, TRÂNSITO PARADO, SOM ALTO TOCANDO A MÚSICA SOBRE "QUANDO A LUZ DOS OLHOS SEUS E A LUZ DOS OLHOS MEUS RESOLVEM SE TOCAR...", SORRIA LARGAMENTE PENSANDO NO QUE A MÚSICA SIGNIFICAVA, DISTRAÍDA COM O ENTORNO. QUANDO,  NUM GESTO DE REFLEXO, OLHO AO LADO, OUTRO CARRO COM UM HOMEM HIPNOTIZADO A SORRIR COM O MEU SORRISO, COM MINHA ALEGRIA E IMPRESSÃO DE ESTAR DE BEM COM A VIDA, FEZ UM CUMPRIMENTO COM A CABEÇA (LEVEMENTE GRISALHA NOS SEUS APARENTES 45 ANOS) E, COM UM EXPRESSÃO "PIDONCHA".
COMECEI A PENSAR NAS CARÊNCIAS E DISPONIBILIDADES DOS SERES HUMANOS (ÚNICOS QUE PERDEM TEMPO COM TAIS QUESTÕES); EU PODERIA TRANSAR COM TODOS COM QUEM FLERTASSE, COM QUEM APARECESSE, COM QUALQUER UM; VOCÊ TAMBÉM PODERIA TRANSAR SEMPRE E COM A MESMA FACILIDADE COM QUEM ENCONTRA NO TRABALHO, NA RUA, NAS CARONAS COM DESTINO CERTO OU NAS "FUGAS" DE CASA; MAS NEM EU E NEM VOCÊ (QUE LÊ) UTILIZA ESSA OPÇÃO, MESMO CARENTES E MAL AMADOS, PREFERIMOS O DESEJO E A FELICIDADE DE QUEM ESCOLHEMOS (POR DESAMOR PRÓPRIO, ORGULHO, MEDO, COMODISMO, QUEM SABE?) PRA COABITAR COM SUAS ESMOLAS, SEUS FAVORES, SUAS OBRIGAÇÕES: DIA, HORA E FORMA QUE QUEREM; SOMOS UNS "COITADINHOS" DOS SEUS CAPRICHOS, DESCUIDOS, CIÚMES INDECENTES E HIPÓCRITAS, EXPLORAÇÃO; PREFERIMOS/ESCOLHEMOS/AJUIZAMOS ISSO À FELICIDADE MUNDANA DOS QUE SE DÃO SEM REGRAS DE ETIQUETA.
UM SINAL DA RAZÃO MODERNA OU INSANIDADE ONTOLÓGICA?
A VITÓRIA INCONTESTÁVEL DO APOLÍNEO SOBRE O DIONISÍACO?
LOUCOS, MALUCOS, DESCOMPENSADOS, TANTÃS, DEMENTES, DOIDOS, DÉBEIS... SOMOS ASSIM.
FREQUENTADORES DOS CONFESSIONÁRIOS, DOS DIVÃS, DOS BOTECOS, DAS POESIAS E DOS SONHOS.
ACOMODADOS A UMA COTIDIANIDADE INSÍPIDA, INODORA, INCOLOR.
DISFARÇADA POR NOTAS  MUSICAIS DIÁRIAS, GOLES GELADOS SEMANAIS, GOZOS SUFOCADOS QUINZENAIS, MOMENTOS DE PAZ MENSAIS, DECLARAÇÕES NATALINAS ANUAIS, SEM CASAMENTOS SACRAMENTADOS... REFÉNS DE OPÇÕES RACIONAIS.
A RAZÃO PRECISA DE CAMISA DE FORÇA?

O QUE FAZ SENTIDO?

POIS É, QUANDO ESTOU COM MINHA PEQUENA FILHA BRINCANDO DE ARTE OU COM O MEU GRANDE FILHO ASSISTINDO UMA COMÉDIA, PERCEBO O QUANTO MINHA VIDA FAZ SENTIDO, O QUANTO ELES ME SALVARAM DO VAZIO, DA ANGÚSTIA DE SER TÃO INGÊNUA E CHEIA DE ESPERANÇAS; O QUANTO SOU FELIZ POR TÊ-LOS COMO PARTE DE MIM, MAS MUITO MELHOR DO QUE SOU; 
EM AÇÕES SEM O CONTROLE TEMPORAL DA ROTINA CASTRADORA DE AFEIÇÕES: COMENDO PIPOCA, CORRENDO NO PARQUE, BRINCANDO COM O CACHORRO E O GATO, ALIMENTANDO OS PEIXES, NOS LAMBUZANDO DE SORVETE, DEITADOS NA GRAMA INVENTANDO FORMATOS PRAS NÚVENS, CONTANDO ESTRELAS, COLECIONANDO ESQUELETOS DE CIGARRAS, FAZENDO BURACOS NA AREIA, BANHANDO-NOS NAS ÁGUAS FRIAS DO RIO, NOS OLHANDO ANTES DE DORMIR.
NUMA FELICIDADE BOBA E DESPRETENSIOSA, FELICIDADE SEM JUÍZO,  FELIZES PORQUE NOS PRECISAMOS EM COISAS TÃO SIMPLES, COMO ACHO QUE DEVE SER SIMPLES TODO AMOR VERDADEIRO.

APELOU? PERDEU!

NÃO É DE HOJE QUE VEMOS MUITAS PESSOAS PERDEREM OPORTUNIDADES POR PURO EGOCENTRISMO E COM SERRA, INFELIZMENTE, PARA ELE E SUA CORJA DE SUCATEADORES DA EDUCAÇÃO, NÃO FOI DIFERENTE.

MAS NÃO TEVE CHORO NEM VELA: APELOU, PERDEU!

VENCEU A SITUAÇÃO, COM A MAIORIA QUE REPRESENTA O QUE O BRASIL É: UMA SOCIEDADE FORJADA NA EXPLORAÇÃO EXTRATIVISTA, NA ESCRAVIDÃO (FÍSICA E IDEOLÓGICA), NO MISTICISMO GLOBAL, NA EDUCAÇÃO CAPENGA, NO CLIENTELISMOS, NAS PANELINHAS, NAS FOFOCAS, NO MACHISMO, NO CORONELISMO, NA EXPLORAÇÃO DA MÃO DE OBRA, NO FAVORITISMO, NA SOCIEDADE DO "COITADINHO", NO PATERNALISMO, NO "PÃO E CIRCO", NOS CONTRATOS DE GAVETA, NOS HERÓIS FABRICADOS, NA CORRUPÇÃO (DO MAMANDO AO CADUCANDO), NO "GATO", NO CONTRABANDO, NO(S) TRÁFICO(S) E, CERTAMENTE, PODERIA ALENCAR MUITOS OUTROS ELEMENTOS DA CAIXA DE PANDORA TUPINIQUIM, CONTUDO, VAMOS USAR A CRIATIVIDADE PARA OLHAR NO ESPELHO (NO UMBIGO OU RABO) E DESCOBRIR A IDENTIDADE DO BRASILEIRO QUE CADA UM É; VALE RESSALTAR QUE, COMO NA MITOLOGIA DOS TAIS GREGOS (EUROPEUS E "CIVILIZADOS"), AQUI TAMBÉM HÁ A MALDITA ESPERANÇA. ESSA DOENÇA CRÔNICA QUE ALIMENTA O ACORDAR E DORMIR DE CADA PRODUTO DA MISTURA CULTURAL NACIONAL, QUE LHES DIZ QUE ALGO VALE A PENA, QUE NÃO GERAMOS FILHOS PARA VIVEREM NUMA LATRINA, QUE AQUI TEM PESSOAS INTELIGENTES, COMIDA BOA, MÚSICA QUE FAZ SONHAR, LUGARES PRA CAMINHAR E TOMAR UMA CERVEJA GELADA, QUE EXISTE AMIGOS DE LONGA DATA, QUE EXISTEM HISTÓRIAS PRA RIR E CHORAR, FILMES, TEATRO E LIVROS, MUITOS LIVROS PARA LER INTEIRO OU SOMENTE AS ORELHAS. QUE AQUI TEM DEMOCRACIA E INTERFERÊNCIA RELIGIOSA (CULPA) NUMA POLÍTICA LAICA. QUE TEM SOL, FRUTA, CHUVA, FLORES O ANO TODO; TEM MUDANÇA ORTOGRÁFICA E ESPAÇOS PARA CATARSE.
PARA OS PIRRÔNICOS E ESTÓICOS DE PLANTÃO: SEJAM FELIZES!

LICENÇA POÉTICA

POR FAVOR, COM LICENÇA, OBRIGADA.

"Didn't call birdy", by Katerina Belkina
Licença poética é uma incorreção de linguagem permitida na poesia. Em sentido mais amplo, são opiniões, afirmações, teorias e situações que não seriam aceitáveis fora do campo da literatura.
A poesia pode fazer uso da chamada licença poética, que é a permissão para extrapolar o uso da norma culta da língua, tomando a liberdade necessária para utilizar recursos como o uso de palavras de baixo-calão, desvios da norma ortográfica que se aproximam mais da linguagem falada ou a utilização de figuras de estilo como a hipérbole ou outras que assumem o carácter "fingidor" da poesia, de acordo com a conhecida fórmula de Fernando Pessoa ("O poeta é um fingidor"), muito conhecida e citada por vários escritores declarados ou anônimos.
obs: mas isso você já sabia!

MADONA DE FOUCAULT

MÃE, EU TENHO MEDO.
MEDO DOS OUTROS, DE MIM, DO MUNDO.
MEDO DE TUDO DE FORA E DE DENTRO... E DAS DOBRAS...
MÃE, QUERO A BARRA DO SEU SAIOTE, SUAS PREGAS, SUAS RENDAS, SUAS RUGAS, SUAS RUSGAS, O FORRO:
PARA ESCONDER-ME DAQUILO QUE NEM SEI SE SOU,
DAQUILO QUE NEM SEI SE QUERO,
DAQUILO QUE ME COAGE, ME DASAFIA, ME ESPERA...
DAQUILO QUE INVENTO...
MÃE, EU NUNCA FUI AUTÔNOMO,
PRECISO DE SUA SOMBRA, SEUS BRAÇOS, RODAS, BÚSSULA E ELMO...
MÃE, JÁ SOU BARBADO, MAS É SÓ UMA MÁSCARA,
NÃO MAIS QUE UMA CARRANCA PARA ESPANTAR OS MEUS FANTASMAS,
(OU MONSTROS QUE CRIO E RECRIO, EM MEU LABORATÓRIO LÚDICO, COMPULSIVAMENTE PARA MEU EGO)
MÃE, JUSTIFICA OS MEUS TIQUES, POIS NÃO PASSAM DE AMULETOS, MULETAS...
FORMAS DE OBJETIVAÇÃO DE UMA CORAGEM NÃO SUBJETIVA...
MÃE, TENHO TODOS OS DOCUMENTOS, MAS NÃO TENHO IDENTIDADE,
NEM SEI SE PRECISO DE UMA TENDO VOCÊ...
OU TANTAS TEIAS DE SABERES E PODERES DIFUSOS...
MÃE, TENHO FALO FANTOCHE E FALA ESTÉRIL...
MÃE, QUE EXISTÊNCIA RIDÍCULA,
COM PERSONAGENS FELIZES NUMA COISIFICAÇÃO ABISSAL.
MÃE, CRIASTE UM IDIOTA, CUJO ID, TÃO CHEIO DE SI E CEGO DE CONSCIÊNCIA, É CASTRADO DE VONTADES, INCONSCIENTE, ÉBRIO E PERTURBADO POR CAMINHOS AÉREOS... ROTAS ALADAS...
FEITO ALELUIA QUE, NUM GOZO PRECOCE, PERDE SUAS ASAS E DESCOBRE QUE, NO CHÃO, SÓ PODE GUIAR-SE PELO RABO DE OUTRAS, DESGRAÇADAS E DESALADAS COMO ELA...
MÃE, POR QUE FIZESTE DO MEU CORDÃO UMBILICAL UMA FORCA?
SÃO DOBRAS DOLOROSAS DE MEMÓRIA E ESQUECIMENTO,
COEXTENSIVOS E VIVOS NO TEMPO DO LADO DE FORA...
INFINITOS E INVISÍVEIS SE NÃO OS CONTORÇO PARA O LADO DE DENTRO, MAIS PROFUNDO E DE MODO VISCERAL, COMO CARNE...
EM TROVÕES E RELÂMPAGOS, FALAR E VER, LINGUAGEM E LUZ...
DOS RAROS MOMENTOS, MÃE, QUE ME DEIXASTE SER.
MÃE, TANTAS MÃES, QUANTAS MÃES PRECISO PRA ACHAR QUE VIVO?
MÃES QUE ME MATAM DE MORTES DIFERENTES TODOS OS DIAS.