Sou professora, por ofício escolhido com consciência...
Sei fazer outras coisas e tenho outros gostos...
Mas o gosto pela minha profissão ainda me alimenta mais.
Mas sou um tipo de professora cada vez mais rara.
Uma professora que domina o seu ofício, sua sala, sua função...
Uma professora que valoriza a inteligência e a presença dos alunos que querem aprender, e esses, infelizmente*, são cada vez mais raros também...
Aquela tipo que ainda acredita que o conhecimento é a base da educação
Que o conhecimento é um parto doloroso, uma estrada que deve calejar para fortalecer
Sou do tipo que dá aula com qualidade, conteúdo e eloquência, mesmo que seja para o interesse de uma minoria e o total desinteresse do Estado, que faz de tudo para a Educação Escolar não funcionar...
Passo pesquisa pra casa, discuto as conclusões dos alunos em sala; cobro a participação dos alunos: que fiquem acordados; provoco-os, perturbo-os numa ironia e maiêutica que não morreram com a cicuta socrática... avalio com mais de três instrumentos diferentes. Pra quê?
Uma profissional que a que os "colegas" gostam de alfinetar... como uma Quixote ... uma Hiparquia...
Sou alguém disposta para o trabalho, apesar do ganho... apesar do resultado... apesar da inutilidade do ofício enquanto conhecimento... desse depósito de gente que temos que, como boas babás, cuidar para o Estado, para a família, para o momento de sua maioridades sem tutela...
Que não quer desanimar... apesar dos modismos pedagógicos
Produzidos por indivíduos que 'desconhecem' a realidade escolar tão distorcida
Que mudam a cada quatro anos, conforme os ventos políticos
Que se "preocupam" mais em procurar culpados do que a solução
Que querem a todo momento criar uma nova função pra escola, que não seja mais o conhecimentos... a nova "moda" agora é formar cidadãos!
Sim, cidadãos obedientes, não homens capazes de criticar e modificar sua realidade
A escola foi, é e sempre será um lugar para se desenvolver conhecimento das ciências humanas, exatas e biológicas... um lugar para sair do senso comum...
Fala-se (mais um modismo) tanto em exclusão... e a verdadeira exclusão é fazer da escola um lugar para medíocres, com falsos saberes, falsas avaliações, falsas noções de valores e regras que não preparam o indivíduo nem para a faculdade, nem para o trabalho, nem para a convivência social... um lugar de faz de conta... onde tudo é permitido...
Um ambiente de chantagens, ameaças, jogos de poder, trocas de "favores", conchavos, fofocas, frustrações e muitas violências, de todos os tipos e intensidades, um microcosmo do macrocosmo social, O Cortiço, O Príncipe, Elogio da Loucura, Vigiar e Punir... insanidades e desmandos em todos os níveis.
As classes estão lotadas, a biblioteca está abandonada, tenho uma aula por semana... mas sou PROFESSORA... e por menos que isso possa representar para outrem... essa é a minha profissão.
*seguindo dica de "anônimo".
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