quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A MICROFÍSICA DA LOUCURA

(DIA ENTARDECENDO)
- Que loucura conseguirmos fugir este final de semana!
Iniciou tímido a conversa, depois de uma viagem tensa e silenciosa.
- Não foi loucura...
Interrompeu ela com ironia.
- Então foi o quê?
Ele provocou.
- Chame sorte ou felicidade ou um presente que merecíamos e faz muito tempo...
Falou ela com euforia.
- Você e essa maldita contagem dos anos, meses, dias, horas, minutos e segundos.
Irritou-se com a cobrança.
- Sim, tem razão, eu adoro e odeio o tempo desde o dia em que te percebi...
Justificou ela com cautela, não queria estragar aquele momento, era típico dela esses rompantes infantis.
- Por que não desde o dia em que me conheceu?
Questionou sua memória, o grande trunfo dele e a pior inimiga dela.
- Porque quando te conheci, não te reconheci como sendo "você"... era um entre tantos... um nome, uma aparência que logo esqueceria junto com os demais, estava imerso em um saco de mesmices da rotina do ofício.
Devaneou lembrando de como estavam, agarrada mais a memória dele do que a dela, assim ele usava as palavras com ele, num jogo doce e sincero.
- Adoro quando falamos de como nos percebemos como hoje.
Ele sorriu entre as palavras, abrindo a porta do carro pra ela e ajudando-a com as poucas malas para o final de semana. Foram em direção ao chalé tocando-se com os braços ocasionalmente, mãos ocupadas com a bagagem, uma grande porção de ansiedade e um esforço enorme pra estar ali por completo. Entardecia de modo preguiçoso como o horário de verão. Ela continuou a conversa.
 (ÚLTIMOS RÁIOS DE SOL NO HORIZONTE AVERMELHADO)