sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Febre


Muito calor, levantei no meio da noite para um banho gelado, estava perturbada pela temperatura externa que me  fazia molhar o lençol, e pela temperatura interna que me molhava a calcinha de algodão e flores... não dava para respirar direito, nem consigo explicar.
Água na temperatura ambiente, da cabeça ao pés... de olhos fechados... refresquei-me por uns 5 minutos imóvel, somente os pensamentos se movimentavam freneticamente como água a 100º C, pronta pra coar o café, sem conseguirem ser capturados pela razão... enrolei-me em toalha branca, a casa estava zuando com seus 4 ventiladores na potência máxima, sem me secar, deixei a luz do banheiro acesa, queria me sentir acolhida, protegida, vigiada pela luz...
Deitei-me assim na cama de bruços, nua e molhada... o vento do ventilador de teto arrepiava meus pelos, pele, me secava... dormi.

Pensamento em fragmentos

Penso em fragmentos, relâmpagos, trovões, insight, sustos... sem papéis para anotar, sem gravadores, sem máquina de datilografia (década de 70/80)...sempre sozinha... ou com o alzheimer. Ontem mesmo vim do "Curupira" olhando a lua, a lua estava pela metade, como as histórias da vida real, em geral, havia uma nuvem escura sobre sua metade superior, em volta brilhava muito... aí vieram meus relâmpagos, como numa tempestade interna, temporal de idéias em trombas... associavam o ciclo lunar a todos os ciclos: o ciclo do carbono; as cadeias e as teias alimentares; as estações do ano; os anos; a vida/morte/vida, apenas troca de estado da matéria, de energia; acho que os ciclos são assim, servem para mudar as coisas que nos enojam... retrocesso, avanço, assim as idéias vem e vão... meu respirar... dormindo ou acordada... já não posso precisar.

Fada morta?

Os falsos mitos...


Como se fosse possível que assim não fossem...
Qual mito é verdadeiro?
Se partirmos da concepção de verdade idealista, onde tudo que pensamos é verdade, Descartes (Hegel)  na defesa ferrenha de nossas idéias diria que tudo que vem dela é mais seguro e confiável, ou seja, tudo que criamos pelo pensamento é verdade, inclusive as mitificações, mistificações ou coisas afins...
Se pensarmos como verdade o materialista (Hobbes ou Marx) ou a materialização de tudo que os nossos sentidos podem, empiricamente, constatar, nenhum é verdadeiro, pois todos não passam de imaginação, alucinação, metafísica, transcendência de nossas fraquezas (desejos, medos, angústias, impotência).
Desse modo, como um ser duplo, que nunca é o todo e nunca é se não o todo, os conceitos seguem sua trajetória de nunca explicar nada.

Da impotência a onipotência...

A sociedade está cada vez mais artificial: não quer sentir dor, morrer, ficar triste, ouvir não, ter limites e... principalmente falhar... em todos os setores encontramos pessoas cada vez mais buscando soluções terapêuticas para impedir qualquer possibilidade de frustração... por que deus está morto (Netzsche) e como seus substitutos queremos ser infinitos, onipresente, onisciente, oniPOTENTE. O novo velho mito.




Xico Sá

Por Xico Sá . 26.02.10 - 13h38

Antidoping do sexo

Uma emenda em caráter urgente, urgentíssimo, à declaração universal do homem que é homem: pelo direito sagrado à brochada ou broxada, tanto faz, como registram nossos velhos e bons dicionaristas. É, estamos ao ponto de perder a nossa mais sensível e delicada condição, uma das raras, a nossa mais linda falência. A cada dia é uma química nova na praça.
Pelo direito das moças realizarem exame antidoping nos marmanjos, para saber o que é vigor artificial e o que vem a ser o fogo que deveras queima o desejo por elas. Contra a fraude amorosa!
Depois do Viagra, do Levitra, tem ainda o Cialis e outros congêneres que prometem 36 horas no ataque, sururu na área, na boca do gol, a tática do abafa. Um dia e meio em riste. Um fim de semana de confusão. Quem aguenta? Ainda mais com aquela nossa força mecânica sem delicadeza alguma, achando que sexo é esporte apenas de lenhadores.
Pelo medo do artilheiro diante do pênalti, pelo sagrado direito à broxada, pela carne trêmula diante da moça. Pelo suspense erótico, e até mesmo por aquela coisa hippie definida simplesmente como “questão de pele”, “química” etc. Clamamos, uma vez mais: queremos de volta a nossa falência demasiadamente humana.
De ovo de codorna, de catuaba para cima, exame antidoping neles. Sim, ostra também vale, afinal de contas é o melhor dos afrodisíacos do embornal do velho Casanova.
O uso das pílulas milagrosas é uma espécie de dumping, para usar a terminologia de mercado – quando um concorrente cria uma vantagem desleal na praça e vende o seu peixe de forma enganosa.
Como a gazela ou a afilhada de Balzac vão saber se aquela devoção toda é motivada por elas mesmas ou pela química? Eis um novo item na lista de inseguranças femininas.
E um reforço e tanto no reclamado machismo de todos os cabróns. Ora, a possibilidade da broxada nos torna mais humanos, mais sensíveis, atentos… Sem isso, imaginem a arrogância fálica, o poder macho, a plenitude da velha expressão “bater o pau na mesa”.
Homem que é homem defende e preza pela humildade franciscana da broxada. Claro que se o tio já dobrou o Cabo da Boa Esperança e enfrenta a disfunção erétil, nada mais justo. Trata-se de questão médica, vai fundo, toda força,  amigo.
O triste é ver jovens, garotos que nem aprenderam ainda dar bom dia a uma mulher, fugindo à luta, descrentes dos seus próprios poderes. Pobres moços, mal sabem da bela compaixão e ternura que desperta uma broxada. Infalíveis, mimados pela mãe e pela química, irão passar a vida inteira sem essa bela experiência.