sábado, 1 de janeiro de 2011

Primeiro dia do ano

(foto do rio gelado)
Um dia como outro qualquer.
Não carrego grandes expectativas em minha rotina purulenta.
Lavar o rosto e prender os cabelos com a nuca azeda do suor noturno, urinar demoradamente.
Fazer e tomar o café da manhã depois de uma noite de sono sem uma trepada que tenha valido o suor.
Lavar a louça com o mesmo sabão que vai se lavar a roupa suja de porra.
Fazer e comer o almoço, lavar a louça, fazer a sesta na rede da varanda cheia flores aprisionadas em latas de conservas e potes de manteiga reaproveitados.
Nada se faz ou desfaz sozinho, tudo tem causa e consequência, uma ou várias, que não está sob nosso controle.
Comer frutos no pé pelo quintal, andar descalça, ver a porca que criou, procurar ovos pelo pasto, dar milho ao cavalo, fazer palavras cruzadas, cagar, ler, tirar fotos das coisas do quintal, procurar algo interessante na tulha, ouvir a conversa dos animais...
Talvez sair para alguma visita aos parentes ou conhecidos da vizinhança, mas não é um bom dia.
Todos estarão, certamente, comendo restos da ceia (que não tivemos no sítio), de ressaca ou bêbados, estarão muito chatos com seus abraços e, fingindo intimidade ou afeto, seus desejos clichê.
A "escolha" foi seguir até o fundo do sítio, entrar no rio de águas geladas e deixar a tarde escorrer com a sua queda natural, sentar em suas águas rasas e deixar a bunda dormente, os peitos soltos na blusa e entumescidos, boca arroxeada, com o barulho agitado da correnteza entre as carnes frias até os ossos; sem tentar prender o tempo, com direito a raios de sol entre as árvores da mata ciliar, picadas de borrachudos, risadas das crianças e um tempo pra não pensar nos 364 dias restantes.
(Foto de uma das árvores da mata ciliar: casca de cigarra. Para mim parece uma nave espacial abandonada já para outros seria uma iguaria apetitosa!)

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