sábado, 17 de abril de 2010

É O VELHO DUELO DE APOLO E DIONÍSIO DENTRO DE NÓS

O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música (Die Geburt der Tragödie aus dem Geiste der Musik, 1872); reeditado em 1886 com o título O Nascimento da Tragédia, ou Helenismo e Pessimismo (Die Geburt der Tragödie, Oder: Griechentum und Pessimismus) e com um prefácio autocrítico. — Contra a concepção dos séculos XVIII e XIX, que tomavam a cultura grega como epítome da simplicidade, da calma e da serena racionalidade, Nietzsche, então influenciado pelo romantismo, interpreta a cultura clássica grega como um embate de impulsos contrários: o dionisíaco, ligado à exacerbação dos sentidos, à embriaguez extáticamística e à supremacia amoral dos instintos, cuja figura é Dionísio, deus dovinho, da dança e da música, e o apolíneo, face ligada à perfeição, à medida dasformas e das ações, à palavra e ao pensamento humanos (logos), representada pelo deus Apolo. Segundo Nietzsche, a vitalidade da cultura e do homem grego, atestadas pelo surgimento da tragédia, deveu-se ao desenvolvimento de ambas as forças, e o adoecimento da mesma sobreveio ao advento do homem racional, cuja marca é a figura de Sócrates, que pôs fim à afirmação do homem trágico e desencaminhou a cultura ocidental, que acabou vítima docristianismo durante séculos.



Termos de uma oposição central que toma como referência as divindades superiores da Antiguidade grega: Apolo e Diónisos. Os órficos foram os primeiros a ensinar que todos os deuses se resumiam a um só, embora existisse uma dupla crença em duas entidades universais: por um lado, Diónisos, aquele que apagava toda a mancha de pecado; por outro lado, Apolo, aquele que libertava do corpo, uma vez que todo o corpo é um túmulo. Em A Origem da Tragédia (1872), Nietzsche retoma esta dualidade, demonstrando que o apolíneo e o dionisíaco são conceitos antitéticos, mas de uma espécie dialéctica necessária à existência de todos os homens: "a evolução progressiva da arte resulta do duplo carácter do espírito apolíneo e do espírito dionisíaco, tal como a dualidade dos sexos gera a vida no meio de lutas que são perpétuas e por aproximações que são periódicas." (A Origem da Tragédia, 5ªed., trad. de Álvaro Ribeiro, Guimarães Ed., Lisboa, 1988, p.35). Nietzsche tentou mostrar que a transcendência extática dionisíaca foi tão necessária aos helénicos como o melífluo culto apolíneo. Chega inclusive a retratar Diónisos como o mais impressionante símbolo do génio humano, sempre aspirando à transmutação, no que se opõe à auto-capitulação eternamente sofredora dos cristãos em sinal de mesura servil para com a divindade em troca de segurança e protecção.
         Apolo e Diónisos são os dois deuses superiores da epifania principal celebrada em Delfos. Parece terem formado uma aliança de soberania já que ambos são idolatrados, surgindo na vida extraordinária dos antigos gregos como o eterno conflito entre a noite e o dia, o claro e o escuro, a água e a terra, o ar e o fogo. Como forças contrárias, equivalem de certa forma à oposição Yin/Yang, se ao apolíneo fizermos corresponder o princípio Yang, sobretudo nas suas qualidades de celeste, penetrante, quente e luminoso; e ao dionisíaco o princípio Yin, como absorvente, frio e obscuro. No pensamento oriental, as duas forças ou princípios complementares abrangem todos os aspectos e fenómenos da vida tal como acontece no pensamento helénico com o espírito apolíneo e o espírito dionisíaco. Mas tais forças não são hoje, para a crítica pós-freudiana, tidas por meras oposições: Apolo não foi simplesmente o Yang de Diónisos, mas antes um estado superiormente desenvolvido do estado dionisíaco.
ESSAS FORÇAS ENCONTRAM-SE NUM MESMO SER... O QUE SE FAZ, EM GERAL, É SEGUIR A MORAL DO REBANHO E CASTRAR, EXTIRPAR, SUFOCAR, IGNORAR O OUTRO, MAS AO FAZER ISSO O SER TORNA-SE DEFICIENTE, DEFORMADO OU UMA BOMBA PRESTES A EXPLODIR OU IMPLODIR DIANTE DAS NECESSIDADES DE SER NA JUSTA MEDIDA, DIONISÍACO E APOLÍNEO, PULSÃO DE VIDA E DE MORTE, SUPERAÇÃO PARA UM SER DO ALÉM DOS SERES...

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