sábado, 10 de abril de 2010

Teimosia rima com Ambrosia?
















Os gregos, particularmente Aristóteles neste caso, de onde "chupamos" a "nossa" filosofia, aconselham uma vida equilibrada, cultuando as virtudes da justa medida e rejeitando os vícios do excesso e da falta... além disso, ele também reforça a necessidade do hábito/educação para que a virtude vença o vício, ou seja, o ver e o fazer sempre, pois não nascemos virtuosos para esse pensador clássico da phisis, pai da lógica, nos tornamos virtuosos a medida que praticamos esse exercício do equilíbrio... no entanto, sou acometida por uma qualidade muito peculiar: a teimosia; e por mais que me debruce a refletir sobre ela, não consigo definir se trata-se de um vício (para + ou para -) ou uma virtude...
Arrisco-me a pensar que essa dúvida acontece porque sendo característica da minha personalidade (alma, espírito, a priori, inata, marcas de nascença) e esta, por sua vez, também teve a intervenção da minha história social e a sua (in) digestão psicológica, acaba tornando-se parte inexorável da minha identidade (ser?), como tatuagens/calos internos que foram conquistados a duras penas, passando por cima de todas as "evidências" que diziam não ser apropriado, possível, necessário, enfim, todas as linguagens possíveis ao deserviço da compreensão do real (Bergson), expressando um empurrão para uma existência abissal.
Graças a Teimosia, essa chata e insistente mania de ser contra a corrente (Pascal) ou rebanho (Nietzsche), contra tudo que diziam ou dizem que alguém com a minha origem, gênero, posição, localização, aparência e momento não faria ou fará, contra todas as certezas de suas doxas... graças a ela, eu fiz e faço... fui o cisne negro a falsear (Hume/Popper) as teorias que me induziam ao fracasso... porém, essa mesma Teimosia, tão assustadora para alguns supersticiosos, cobra seus efeitos colaterais: um deles é o de pensarem, por vezes, que o que faço tem ela como um fim e não como um meio... isso, muitas vezes, pode diminuir ou acobertar em muito outras virtudes ou vícios mais apropriados e, principalmente, cegar os olhares de outrem do principal objetivo: fazer sentido, sentir... atingir a sensação.
É que quando acompanhado do impulso, a teimosia transforma-se em mola desgovernada; a saltar sobre as coisas e coisificações humanas e aí salve-se quem quiser (todos podem...)
Já, se a sua companhia é o orgunho ou da cautela, arquiteta de forma obstinada e com bom senso o quê, quando e como atingir seus objetivos...
No entanto, essa segunda hipótese só acontece quando não envolve afetividade, ou seja, quando o tema é profissional ou acadêmico, do contrário, quando o conteúdo em questão é o sentimento, sua carga de impulso prevalece sobre todos as outras qualidades, desconectando todas as possibilidades de razoabilidade... desgovernada, joga-se no abismo esperando que seu herói de papel reestabeleça a idiotia da razão. Como julgá-la?

Um comentário:

  1. Caramba! Seria tudo assim tão complexo? Ou as coisas mais simples estão sendo invisíveis? Ver tudo pela sua complexidade é um excesso... perceber tudo de maneira simplória é uma falta. Onde o "justo meio" aristotélico?

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