quarta-feira, 18 de agosto de 2010

ARANHA OU MOSCA DA WEB

“Ocorreram-me várias coisas enquanto pensava no assunto. No silêncio de uma velha sala, eu preparava esta intervenção quando me ocorreu observar na esquina do teto uma teia de aranha. Esse pequeno animal concebera e constituíra não uma casa onde morar, mas uma armadilha para caçar.
  Os ingleses chamam a web a esse entrelaçar de fios. A tradução do termo é ambígua – pode ser rede, pode ser teia. Essa mesma ambigüidade puxou o gatilho de uma velha inquietação [...] Há uns anos a fronteira entre civilizados e os povos indígenas era a sua integração na ilustra europeia. Agora, uma nova fronteira pode estar surgindo – de um lado, os digitalizados e, de outro, os ex-indígenas que passarão de indigentes a indigitalizados. Uma nova proposta de cidadania está em curso. E nós estaremos, de novo, no lado dos subúrbios.
Enfim, a web é uma rede, mas também uma teia. Nessa teia e que voluntariamente aderimos seremos a aranha se tivermos estratégia. Sermos a mosca se nos mantivermos pensando com a cabeça dos outros”.
COUTO, Mia. Pensatempos. Lisboa: Editorial Caminho, 2005.

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