terça-feira, 3 de janeiro de 2012

EU E O IPÊ


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Vi-a cair com majestosa mansidão que resolvi tocá-la. Estava fria, mas o veludo natural de sua forma disfarçava essa sensação de frieza, fazendo apenas senti-la fresca pela brisa.
Sua textura era excitante. Tocá-la só com as mãos seria desperdício, e já que a natureza fizera-a imitando uma taça, toquei-a com os lábios.
Senti como se estivesse sendo beijada, acariciada por aquela fina membrana cheirosa ao extremo.
Me seduzia e me envolvia, num clima de sensualidade.
O cheiro havia se transformado num afrodisíaco, em algo incomparavelmente exótico.
Mas me contive.
Na verdade, queria estar nua, coberta por estas maravinhas que caíam do ipê.
Eram de tantas cores... roxos, brancos, rosas, amarelas... e me transmitiam uma sensação de pureza, mas ao mesmo tempo, a brisa me fazia recordar a sensação de desejo.
Queria que pétala por pétala deslizasse pelo meu pescoço, acariciasse meus seios e saciasse-me até o êxtase.
Mas o pátio estava cheio de espectadores, e eu queria tudo muito íntimo, estava molhada e corada.
Eu e as flores.
Intimidade e delicadeza.
Desejo inconsciente e liberdade de expressão.
cheiro e brisa.
Minha imaginação e alguns pés de ipês em flor numa entediosa manhã de primavera.
O sonho e a realidade.
Tesão.
Eu.

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