terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Relações por um Fio XXIX

Influências dos quadrinhos???? Moça, esse também é um dos que mais gostei de ter feito.
        

       O  POEMA  DA  DESEJADA  INVISIBILIDADE


                Estão, o Coisa e a Mulher Invisível, na mesa de um bar.
                Totalmente porrados, hálitos rançosos,
                Copos rançosos de digitais e labiais, luz de 25 W,
                Paredes lacrimejantes de mofo;
                Porrados, deprimidos da vida,
                Melhor: deprimidos de vida.
                Estão numa mesa de bar, o Coisa e a Mulher Invisível.

                O Coisa: “Tá lá, porra, no dicionário Marvel, que eu dou conta de 75 toneladas".                 
                Pausa, lenta pausa, para um gole, grande gole, de ambos.

                Continua, o Coisa: “Mas, vez em quando, quase sempre ultimamente,
                                            fica tudo tão pesado que eu arreio, com as 4 patas,
                                           desmonto, mesmo”.

               Outra pausa, para um bater de cinzas do charuto no cinzeiro;
                Volutas de fumo rodopiam, abraçam e dançam com a face paciente
                Tolerante, resignada, da Mulher Invisível.

                Ainda, o Coisa: “Sabe, às vezes, tenho vontade de sumir”.
                A Mulher Invisível: “Esquece! Bobagem... sumir também não adianta!”.

                (A cena se fecha num superclose, num fantasticzoom
                do cruzar de dois fastientos olhares, basáltico e etéreo-vaporoso.
                A cena se fecha num superclose, num fantasticzoom
                do escapar, do vazar, do erodir de duas distintas lágrimas:
                de obsidiana, uma, capaz de riscar o quartzo,
                de cristal corrediço, a outra, com igual índice de refração do ar.)
 Moço.
 (Seu desejo se realizou, agora conhece uma mulher invisível: eu)

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