Moça,
Já racionalizou? Da razão de ter me escolhido, palavras suas, para se lembrar de sensações e sabores tão raros? Você acha que vamos escapar disso assim tão fácil, simplesmente racionalizando? Nós dois nos julgamos dotados desses tais poderes de racionalização. E até somos. Mas superestimamos esse poder. É um poder limitadíssimo.
Você acha mesmo que me escolheu? Você acha que alguém escolhe alguma coisa? E nem é questão de eu ser determinista, não. As coisas caem na nossa frente. O máximo que conseguimos fazer – e quando conseguimos – é resistir a alguma delas. Nesse caso, tá difícil.
Hoje acordei pra fazer o café, ir à padaria, essas coisas de dono de casa e meu primeiro impulso foi ligar o computador e ver se havia algo seu. Não fiz. Prometi a mim mesmo que hoje não ligaria o computador, não abriria a caixa. Mas ficou a idéia fixa. Fiz todos meus diários, toda aquela chatice de completar freqüências e conteúdos e a idéia permaneceu. Fui lavar umas roupas, idem. Fui preparar o almoço e sempre tomo umas cervejas enquanto cozinho aos domingos. Aí, já viu, né?
O álcool, apesar de aparente estimulante, é um potente depressor. Entre outras, deprime a região do cérebro que regula nossa auto-censura. O álcool vai amaciando a já fraca carne, nossa força de vontade vai ficando mais fraca. E outras vontades, mais fortes. Desavergonhadamente mais fortes.
E estou eu aqui, às 16 e pouco, escrevendo de novo pra você.
Confissão: não estou nem tentando racionalizar.
Moço.
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