Moça,
Certa vez, não sei há quanto tempo, ouvi você dizendo – tá vendo como faz tempo que presto enorme atenção ao que você fala? - que em suas viagens, você sempre levava livros e os lia em voz alta e ia comentando-os ao longo do trajeto. Espero que, dessa vez, você não tenha feito isso. Afinal, o Bukowski não é propício a ambientes familiares. Você disse que o Bukowski e a Alcione foram suas companhias durante a viagem e que você ficou quente e molhada. Se foi o texto do velho Buk que te deixou assim, eu começo a ter raiva desse cara; se foi a música da Alcione... novas fronteiras começam a ser divisadas. Você, quente e molhada, que vontade de sentir sua febre e seu charco, seu pântano. Quero sentir tudo isso ainda em janeiro (deus Janus, duas faces, sugestivo, não?).
Sei que isso não te serve de alento – se servisse, não te admiraria e te quereria tanto – mas, depois daquele beijo, não consegui mais grandes desempenhos, na verdade, desempenho nenhum. Nas três vezes em que fui “solicitado”, nada ocorreu. Nunca “falhei” assim. Não te disse, mas o simples alisar da sua perna, provocou em mim um início de ereção.
Moça, são 5 e 15 da manhã do dia 29 de dezembro do ano de 2007 do “nosso” Senhor Jesus Cristo e eu estou sob ainfluência do rum. Tenho um laço afetivo com o rum. Meu primeiro porre foi de rum, aos 22 anos, foi a primeira vez em que eu não sabia se estaria vivo no outro dia. E mais: tomei meu primeiro porre antes da minha primeira trepada. O rum foi meu(minha) primeiro(a) amante. E, também, aquele(a) que menos dor de cabeça me deu. Portanto, estou exposto – submetido - à influência de meu(minha) primeira foda, naquela hora em que os músculos relaxam e segredos de Estado são revelados junto às volutas do cigarro. O rum revela o “pior’ de mim, o mais sincero de mim: quero você!!!!
O rum – artigo proibido pelas convenções “morais” – foi trazido por uma amiga. Rum Montila, aquele do pirata, o melhor rum de todos. Nesse caso, o “pirata” tem de ser o Montila, o“pirata” tem que ser o original. Todos foram dormir, sobramos apenas eu e um quarto de garrafa de rum. Adivinhe o que acontecerá com ele? Não sei aí no passeio, mas aqui tá quentíssimo, é capaz de amanhã/hoje cedo a garrafa estar vazia, é capaz de evaporar. Queria você aqui.
Em homenagem ao rum, meu primeiro(a) amante, fica esse poema, tem tb uma música da Alcione.
UM PORRE DE CUBA LIBRE
E ela, enternecida,
Soltou o cabelo,
Iluminou e confrontou o espelho,
Desempoeirou e abraçou velhos pesadelos,
Saudou a vida!
E foi sozinha até a cozinha
Onde, entre temperos e compotagens,
Preparou, gota a gota, em seu caldeirão, a beberagem.
Sem pressa, sem precipitação, meticulosamente,
Como devem ser os preparativos de uma viagem.
E ela, embevecida,
Se permitiu não escovar os dentes,
Não trilhar por sua cabeça, o pente,
Olhar, sem susto, para o mundo sem as suas lentes,
Perdeu o medo da vida!
E mesclando suas receitas, suas poções,
Nos seus tachos esverdeados de cobre,
Preparou pro mal da vida, a cura:
Curare, estricnina, cianeto, cafeína,
Anis para adoçar a mistura.
E ela, distraída,
Deixou o lodo proliferar no banheiro,
Não lembrou de, antes de dormir, contar o dinheiro,
Não verificou as trancas, o gás e a voltagem do chuveiro,
Esqueceu da vida!
Sorveu a tudo não como veneno
E sim como a um sorvete.
A todo conteúdo não com repulsa e sim deleite
Como o copo fosse túrgido seio de materno leite.
E ela, entorpecida,
Nem verificou o despertador que a espeta,
Que a desperta para a dor.
Acenou sem lenço e sem testamento a todo o seu legado:
Sua pouca arte, a sua janela sem arvoredos
Seus medos, seu catre, seu calabouço de quebrado piso.
Num esboço de sorriso
Deu adeus à vida!
Seu passsamento:
Nem um esgar, nem um estertor
Nenhuma estória lamuriosa em carta posterior.
Em seus olhos, apagados em vida, agora em firmamento,
Só constelações; não remorsos ou arrependimentos.
Sua morte:
Tal e qual aquem
Toma um porrede cuba libre.
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Moça,
nao vamos conseguir nos evitar por tanto tempo...........
Moço.
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