Moça,
Você disse: continuarei lendo se continuar escrevendo.
Sabe o que me lembrou? Aquele filme com o chato do Kevin Costner, “O Campo dos Sonhos”. Construa que eles virão. Pois bem, continuarei escrevendo que você lerá. Criminosa e prazerosamente, continuarei escrevendo.
Moça, fui hoje/ontem até a biblioteca, à cata de Tristão e Isolda. Eles tem esse título, mas está emprestado. Fiz reserva, porém precisava saber algo a respeito, já que é algo que mexe tanto com você. Ciúme? Vasculhei na net e consegui traçar um esboço sobre (mas lerei o livro, prometo).
Algumas coisas me chamaram a atenção. Ao que tudo indica, essa história é do século XVIII (780 a 785 DC). Curioso... Sempre soube de Tristão como um dos cavaleiros da Távola Redonda. Arthur Pendragon e seus apóstolos remontam ao século IV, século V.
Teria sido esse drama de amantes absorvido pela mitologia arturiana? Pouco importa.
Um dos pontos que mais me deleitaram foi o dos amantes tomarem um filtro de amor, que os fez apaixonarem-se ou, por baixo, desinibirem suas paixões. Pense comigo: essa história se passa na Escócia, os amantes tomam um preparado que os fazem se apaixonar, fazem-nos se enxergar como amados. Conclusão: só pode ser um legítimo escocês, um whisky dos bons. Isso lembra algo a você?
Mas a lenda fascina pela sua proibição (isso também parece me lembrar algo). Em 1986 – 1988, no Brasil – foi publicada uma minissérie em quadrinhos chamada “Camelot 3000”. Partia da premissa de que quando a Inglaterra mais precisasse, o Rei Arthur e corja retornariam. E frente a uma ameaça alienígena (será que os ufólogos tem razão?) foi o que se deu. Na Inglaterra do ano 3000 DC, as essências de Arthur e seus cavaleiros reencarnaram para combater a ameaça. E um dos pontos de maior atrito, conflito, era justamente o de Tristão e Isolda. Isolda encarnada em uma mulher, uma publicitária salvo engano. E Tristão encarnado, também em uma mulher. As duas almas se reconheceram, mas os dois corpos não permitirão o desfecho da paixão. De novo a proibição. Quer dizer, não permitiram o desfecho até certo ponto. No fim da minissérie, as “duas” se pegam de jeito, numa das cenas mais excitantes e antológicas das HQs. Essa minissérie foi concebida por Mike Barr (argumento razoável) e Brian Bolland (ilustrações primorosas, um dos expoentes britânicos das década de 80 e 90). Tenho essa minissérie. Se quiser, empresto.
Ah, Moça... Tanta coisa que eu sei e que quero te falar... tanta coisa que quero escutar e aprender de você...
Estou mandando anexas duas ilustrações dessa minissérie que consegui na Internet. Destaque para a número dois, a Morgana das fadas. Na número um, estão o rei Arthur carregando sua esposa, à esquerda dele, Lancelot em sua armadura prateada e à direita de Arthur, mais ao fundo, com o cabelo rente, uma “mulher”, justamente Tristão. Nem sei o porquê, mas Lancelot é a figura que mais me comove, considero-o a maior de todas as vítimas de Camelot.
Tenho ainda muitas coisas a lhe dizer, a lhe escrever, mas vou guardar um pouco para os outros dias em que estará na viagem, sempre esperando que realmente me leia.
E, Moça, mesmo que lhe digam que chego enfurnando velas negras, não acredite. Mesmo que me veja enfurnando velas negras, não creia em sua visão. Se não são as brancas, se não lhe parece as brancas, é por pura impossibilidade (passageira, quem sabe?). Olhe meu sorriso, meu raro e fugidio sorriso: ele é sempre velas brancas para você.
Beijos,
Moço.
Obs1: estou aqui, uma e meia da manhã, imaginando você a arrumar as malas para sua viagem. De coração, espero que tudo corra bem. Me carrega no seu porta-malas? Até a volta e, por favor, continue me lendo. E me escrevendo...
Obs2: coloquei “Tristão e Isolda” de Dali como fundo de tela do meu computador.
Tristão e Isolda - Salvador Dali
Em tempo: quis dizer século VIII e não XVIII. Beijos.
Tristão e Isolda - Salvador Dali
Em tempo: quis dizer século VIII e não XVIII. Beijos.
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