quinta-feira, 11 de março de 2010

Dimenstein: um cidadão do papel moeda...


Uma greve contra os pobres

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A greve decretada pelo sindicato dos professores de São Paulo é uma greve contra os pobres - a sorte do sindicato é que os pobres não sabem disso.
Não vou discutir aqui o pedido de aumento salarial (30%). O problema gritante é que, entre as reivindicações que levaram à decretação da greve, estão o fim das normas que reduziram a falta dos professores (podia-se faltar até 130 dias por ano), o exame para professores temporários, a nota mínima para os concursos, a escola de formação de professores (o novo professor tem de passar num curso de quatro meses antes de dar aulas) e, enfim, o programa que oferece aumento salarial para quem ir bem em provas.
Suponhamos que se decidisse mesmo facilitar o absenteísmo (que já é grande) e reduzir medidas que valorizem o mérito. Quem vai sofrer não é o filho da classe média. Mas o pobre.
Tenho dito aqui que a profissão mais importante de uma sociedade é o professor. Sei que ele vive em permanente tensão, o rendimento é baixo, é vítima de violência. Nada pode ser mais importante do que valorizá-lo. Sei também como a classe é vítima de várias mudanças de secretários - o que ocorre dentro do PSDB em São Paulo.
Mas esse tipo de reivindicação contra o mérito não melhora a imagem do professor - é um desserviço que o sindicato faz à categoria
COMENTÁRIOS DE UM PROFESSOR: MÁRCIO FERRO
Sou professor da rede estadual há oito anos e ocupo dois cargos como professor desde 2005. Este ano decidi que será o último no qual ocupo estes cargos. A partir do ano que vem mudarei de carreira e, infelizmente, largarei a profissão que um dia imaginei que desempenharia e que seria aquela que me realizaria como profissional e ser humano.
Estou cansado de ser tratado como um lixo pela política educacional (ou pela falta dela) do governo do estado de São Paulo. Sem um plano de carreira, sem condições de trabalho dignas, lidando semanalmente com mais de mil alunos (21 turmas x 50 alunos), recebendo um salário ridículo, sem nenhum benefício, tendo que pagar para tomar conta dos carros da escola, comprar água, sem horário para refeição, sofrendo com a violência por parte da comunidade (já levei tiros em porta de escola e fui agredido e presenciei agressões aos meus colegas), sem um apoio pedagógico realmente eficaz, entre muitos outros fatores.
Mas o que mais me chateia são as opiniões do senhor, Sr. Gilberto Dimenstein. Estou cansado de ser tratado em seus comentários como um mercenário que só pensa em dinheiro, ou como um alguém que falta quase que diariamente ao trabalho por pura negligência. Não aguento mais! Suas colunas também foram determinantes para me levar a tomar a decisão de largar o magistério. Meus amigos (que não são professores) leem suas opiniões e acham que estou aumentando a situação, que estou mentindo, pois ao lerem sua coluna e verem a propaganda do governo estadual, acreditam que a escola pública está uma maravilha.
Peço ao senhor que, ao publicar suas próximas colunas, pense, mas pense muito, em quantos professores o senhor está desmotivando. Informe-se, procure, estude e - acima de tudo - conheça a realidade das escolas estaduais das regiões periféricas. O senhor mesmo já percebeu que a atratividade da carreira do magistério é quase nula frente aos jovens concluintes do ensino médio. Trabalhe para valorizar a educação e não políticas educacionais pautadas pela economia e sem foco no ser humano.
Afirmo que estou em greve! Não só por salário, mas para que o filho do pobre - ao qual o senhor se refere em sua coluna - possa chegar ao fim do ensino médio com condições de igualdade para disputar com o filho do rico uma vaga no mercado de trabalho ou em uma universidade, sem precisar de cotas. Não aguento mais ver alunos sem saber ler e escrever egressos da escola pública. Formados. Porém sem esperanças e sendo motivo de piadas

2 comentários:

  1. não gosto desse Dimenstein, mas concordo com ele em relação a valorizar o mérito.
    Professores que recusam a fazer provas? Contrassenso ou hipocrisia mesmo?

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  2. Também concordo com a prova, pois tenho muitos méritos, desde que ela fosse um critério para aumento salarial de todos os funcionários públicos, principalmente daqueles que aumentam seus salários e impostos na calada da madrugada... é o princípio da isonomia... não me recusei a fazer a prova e, apesar do seu conteúdo não ter nenhuma relação com a realidade em sala de aula, passei, porém isso não vai garantir o meu aumento, aceitar esse critério de aumento para 20% dos aprovados a cada 3 anos é que é um contrassenso em relação ao que a LDB nos orienta sobre avaliação/habilidades e competência/múltiplas inteligências e inclusão das diferenças... hipócrita é aquele que acha que só ele sabe dar aula... temos excelentes profissionais na educação, apesar de tudo, ainda.

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