segunda-feira, 15 de março de 2010

Vida Normal

GERSON WATANUKI


Viver já é uma ação complexa e, muitas vezes, sem lógica... principalmente, em se tratando de humanos... que defendem cada tipo de normalidade... até parece que não conhecem a história desta humanidade...
É como pedir a uma fada pra não voar... para um poeta não emocionar... para um mágico não iludir.
Não somos normais, nessa normalidade medíocre, nunca o quisemos ser... eu era a menina estranha da escola (tudo demais: piolhos, perebas, masturbação, inteligência)... nunca me encaixei em nada que pudessem chamar de normal... nem como criança (quase morta por uma bala soft), nem como filha, nem como irmã, muito menos como mulher...
Sempre gostei de experimentar sabores e cheiros que os outros julgavam não natural para o meu gênero, idade, classe social, religião... a superação desses valores me fortaleceu a imaginação.
Como deixar de sonhar se é deles que me alimento... não sonhar é não viver... os sonhos são perigosos, sim, Prost até nos alerta, mas ele próprio recomenda que, por isso mesmo, devemos sonhar cada vez mais...
Não aceito ser castrada daquilo que sou, para ser um coxo social e assim ser aceita numa história de muitos não rostos, não almas, nadas...
Não aceito perder minhas asas, como não aceito perder meu olhar protegido por taturanas negras de "menina/mulher/fada/fênix" atrevida... bisbilhoteira... que faz com que as pessoas se mexam para além de suas bolhas de um quase ser... provoco, espanto, confundo... porque eu sou... aceito o que sou... assumo o que sou... consumo o que sou... sofro pelo que sou.
Mas, certamente, seria muito mais tripalium abrir mão do que sou para fazer outrem feliz... não é egoísmo... é sobrevivência... de outro modo... se passasse a ser o que os outros querem... perderia todo o respeito, admiração e valor que aproximou outrens de mim... portanto perderia a graça...
Prometo que nenhuma cirurgia, droga, religião, convenção social serão utilizados por mim para eu deixar de ser cria, criatura, criadora, criação constante de mim, através daquilo que sonho, imagino, fantasio, mascaro, enceno, nesse enredo que, hoje, passa pela sua história, que lúcido me nega, mas guiado por Baco, me assumi... É certo que me ama tal como sou.
Juro que te amo tal como é... e mesmo não sendo possível...
Caro Fauno, como imortal fada, vou esperar o momento de fazer minha existência mais completa dentro da sua boca.... dentro do meu corpo...
É assim que somos...
insatisfeitos com nossos destinos... satisfeitos com as promessas de Morgana!
Ainda não quer ser quem é?

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