quinta-feira, 11 de março de 2010

Escola ou "orfanato"


Acabei de assistir a uma "entrevista" no Jornal Hoje, exibido pela "imparcial" rede Globo, onde a pauta era sobre a Violência entre os jovens. Pra iniciar a matéria exibiram reportagens sobre crimes realizados por jovens na porta ou dentro das escolas. Logo após receberam no estúdio uma Profª da USP "especialista" neste tema: Violência entre os Jovens... entre várias informações absurdas que esta senhora disse ela conclui sua participação da seguinte maneira: " Em nossa sociedade onde o pai e/ou a mãe tem que trabalhar fora para sobreviver, ficando a maior parte do dia fora de casa, longe dos seus filhos, queira ou não, a escola tem sim que assumir 50% da responsabilidade pela educação desses jovens."
Ou seja, usa-se do expediente da voz da "ciência" para justificar por estatísticas a questão da violência e procurar um culpado ou responsável por ela, porém, ninguém fala da solução. Como se a escola, tivesse que "se virar" para cuidar dos filhos para os quais a sociedade não tem tempo. Talvez porque não se queira encontrar a solução, pois essa passaria por uma Política ética (que na Grécia não se separavam) mas que, infelizmente, em nosso país, estão cada vez mais distante. Quem quer uma sociedade crítica e esclarecida, que despreza o consumismo e valoriza mais a essência humana?
A escola tem se tornado um depósito de gente, que não tem estrutura nem para o ensino aprendizagem, muito menos para o engodo de Ensinar para a Cidadania: nem para o Trabalho e nem para o Vestibular.
Tenho família e EU sou responsável pela sua educação social, higiene, respeito a si e ao próximo, deixo para escola apenas o conteúdo das disciplinas que não domino e que serão importantes para o futuro acadêmico e profissional deles. As Famílias têm se eximido cada vez mais das suas responsabilidades com os filhos, seus valores, seus limites, graças ao paternalismo eleitoreiro do Estado que acomoda todos em suas vidas medíocres e sem objetivos, tornando-os cada vez mais boiada do seu curral.
Sou professora, leciono para 900 alunos na rede pública, minhas salas estão lotadas com 42 jovens do EM, vejo-os por 50 minutos uma vez por semana, para fazer a chamada, passar conteúdo, avaliar; as "apostilas" enviadas pelo Estado são de péssima qualidade, além de subestimar a inteligência dos professores e alunos; os ventiladores raramente funcionam, o forro de madeira está despencando, chove em muitas salas, a biblioteca já perdeu muito material valioso devido as chuvas e más condições da cobertura, a sala de vídeo fica sem uso pois, só cabem apertados 20 alunos de cada vez,  não temos técnico para ficar os alunos enquanto o professor fica com o restante dos alunos em sala de aula; não temos inspetores para os pátios e corredores.
Os professores recebem por volta de 7 reais por aula, o ticket alimentação máximo é de 80,00 (20 x 4,00), tem faltas médicas limitadas, não tem FGTS, metade do seu pagamento são gratificações que desaparecem após sua aposentadoria; são humilhados, sendo a unica classe que precisa fazer prova para receber aumento de salário (não adianta passar na prova, tem que estar entre os 20% que eles querem "premiar"); são ignorados pela mídia e poder público, e a cada dia que passa os bons profissionais tem saído da rede (por doença, medo ou sobrevivência), ficando apenas aqueles que ainda sonham com um futuro melhor para educação ou aqueles que não tem outra opção. Infelizmente os sonhadores tem diminuído a cada dia, assim a escola terá cada vez menos qualidade, já que não atrai mais bons profissionais. Contribuindo para o fim da Educação Pública, que não investe em qualidade, mas sim em quantidade. Ex.:
Todos pela educação. Mas todos quem, já que o Estado só trabalha contra, através de seus sofismas, sua mídia e o apoio das famílias que não se importam com conhecimento, só com uma babá de graça para seus filhos, filhos este que não assumem e não se responsabilizam?
Educação para todos. Todos os alunos que querem estudar ou todos que querem entrar na escola para quebrar, brigar, agredir, traficar, ganhar bolsa para a família não precisar trabalhar?
Os filósofos no século V já diziam que uma sociedade que não valoriza a educação, está fadada ao fracasso.

2 comentários:

  1. Professora!
    Tua reflexão e crítica dura - infelizmente - não atingem a mídia. Nos professores somos como fantasmas que assombram as escolas... às vezes penso que ela não nos pertence mais!Sinto como se fossemos apenas um sopro de vida num corpo que não é nosso... que vai morrer. Eu creio que o atual modelo de escola está morrendo. Tem que surgir outro modelo onde o professor deixe de ser fantasma e seja agente forte.
    Não podemos desistir porque só há país se há gente educando.Claro que a escola não é o único lugar para educar. Todos somos alunos, todo o lugar é escola.

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  2. Amilcar, obrigada por ser um excelente caça fantasmas, gostei do seu blog e sua presença no meu me lisonjeia... sou uma assombração para as mentes acomodadas... não desistirei... mesmo gritando sozinha no meio do deserto... sua participação é um oásis...abraço.

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