sábado, 19 de setembro de 2009

ÉTICA - AULA 3

Ética na filosofia medieval

“Foi conquistada a cidade que conquistou o universo.” (Assim definiu São Jerônimo o momento que marcaria a virada de uma época.) Era a invasão de Roma pelos germanos e a queda do Império Romano.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO PENSAMENTO CRISTÃO

»A avalancha dos bárbaros arrasou grande parte das conquistas culturais.
Ao longo do século V d.C., o Império Romano do Ocidente sofreu ataques constantes dos povos bárbaros. Do confronto desses povos invasores com a civilização romana decadente desenvolveu-se uma nova estruturação européia de vida social, política e econômica, que corresponde ao período medieval.
»A Idade Média inicia-se com a desorganização
da vida política, econômica e social do Ocidente
agora transformado num mosaico de reinos bárbaros.
Depois vieram as guerras, a fome e as grandes epidemias.
O cristianismo propaga-se por diversos povos.
A diminuição da atividade cultural transforma o homem comum num ser dominado por crenças e superstições.


A FILOSOFIA MEDIEVAL E O CRISTIANISMO

Em meio ao esfacelamento do Império Romano, decorrente, em grande parte, das invasões germânicas, a Igreja católica conseguiu manter-se como instituição social mais organizada.
Ela consolidou sua estrutura religiosa e difundiu o cristianismo entre os povos bárbaros, preservando muitos elementos da cultura pagã greco-romana.
Apoiada em sua crescente influência religiosa, a Igreja passou a exercer importante papel político na sociedade medieval.
Desempenhou, por exemplo, a função de órgão supranacional
conciliador das elites dominantes
contornando os problemas da fragmentação política
das rivalidades internas da nobreza feudal. 
Conquistou, também, vasta riqueza material: 
Tornou-se dona de aproximadamente um terço das áreas cultiváveis da Europa ocidental, numa época em que a terra era a principal base de riqueza.
Assim, pôde estender seu manto de poder "universalista" sobre diferentes regiões européias.

NÃO FOI, PORÉM, A "IDADE DAS TREVAS".

A filosofia clássica sobrevive, confinada nos mosteiros religiosos durante toda a PATRÍSTICA.
O aristotelismo dissemina-se pelo Oriente bizantino, fazendo florescer os estudos filosóficos e as realizações científicas entre os árabes.
Sob a influência da Igreja, as especulações se concentram em questões filosófico-teológicas, tentando conciliar a fé e a razão.
E é nesse esforço que Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino trazem à luz reflexões fundamentais para a história do pensamento cristão.
No Ocidente, fundam-se as primeiras universidades, ocorre a fusão de elementos culturais greco-romanos, cristãos e germânicos, e as obras de Aristóteles são traduzidas dos filósofos árabes (Averróis e Avicena) para o latim .

PATRÍSTICA - OBJETIVO

"A fé em busca de argumentos racionais a partir de uma matriz platônica"
»Desde que surgiu o cristianismo, tornou-se necessário explicar seus ensinamentos às autoridades romanas e ao povo em geral.
Mesmo com o estabelecimento e a consolidação da doutrina cristã, a Igreja católica sabia que esses preceitos não podiam simplesmente ser impostos pela força.
Eles tinham de ser apresentados de maneira convincente, mediante um trabalho de conquista espiritual.


ÉTICA DA SALVAÇÃO
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Foi assim que os primeiros Padres da Igreja se empenharam na elaboração de inúmeros textos sobre a fé e a revelação cristãs.
O conjunto desses textos ficou conhecido como patrística por terem sido escritos principalmente pelos grandes Padres da Igreja.
Uma das principais correntes da filosofia patrística, inspirada na filosofia greco-romana, tentou munir a fé de argumentos racionais.
Esse projeto de conciliação entre o cristianismo e o pensamento pagão teve como principal expoente o Padre Agostinho.
"Compreender para crer, crer para compreender". (Santo Agostinho)

ÉTICA CRISTÃ

O cristianismo se eleva sobre as ruínas da sociedade antiga; depois de uma longa e sofrida luta,transforma-se na religião oficial de Roma (séc. IV) e termina por impor o seu domínio durante dez séculos.
Ruindo o mundo antigo, a escravidão cede o seu lugar ao regime de servidão e, sobre a base deste, organiza-se a sociedade medieval como um sistema de dependências e de vassalagens que lhe confere um aspecto estratificado e hierárquico.
Nesta sociedade, caracterizada também pela sua profunda fragmentação econômica e política, devida à existência de uma multidão de feudos, a religião garante uma certa unidade social, porque a política está na dependência dela e a Igreja exerce plenamente um poder espiritual e monopoliza toda a vida intelectual
Como instituição que vela pela defesa da religião
A moral concreta, efetiva, e a ética estão impregnadas, também, de um conteúdo religioso que encontramos em todas as manifestações da vida medieval.
Como doutrina moral


ÉTICA RELIGIOSA

A ética cristã parte de um conjunto de verdades reveladas a respeito de Deus, das relações do ser humano com o seu criador e do modo de vida prático que o ser humano deve seguir para obter a salvação no outro mundo.
Como a filosofia cristã em geral.
Deus, criador do mundo e do ser humano, é concebido como um ser pessoal, bom, onisciente e todo poderoso.
O ser humano, como criatura de Deus, tem seu fim último em Deus, que é o seu bem mais alto e o seu valor supremo.
Deus exige a sua obediência e a sujeição a seus mandamentos, que neste mundo humano terreno tem o caráter de imperativos supremos.
Doutrina dos ascetas.
Antes da instituição dos mosteiros, devoto dedicado a orações, privações e mortificações, sem ter pronunciado votos.

ÉTICA RELIGIOSA
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Assim, pois, na religião cristã, o que o ser humano é e o que deve fazer definem-se essencialmente não em relação com uma comunidade humana (como a polis) ou com o universo inteiro, mas, antes de tudo, em relação a Deus.
O ser humano vem de Deus e todo o seu comportamento deve orientar-se para ele como objetivo supremo. 
Incluindo a moral.
A essência da felicidade (a beatitude) é a contemplação de Deus.
O amor humano fica subordinado ao divino.
A ordem sobrenatural tem a primazia sobre a ordem natural humana.

ÉTICA RELIGIOSA - VIRTUDES

Também a doutrina cristã das virtudes expressa esta superioridade do divino.
Embora assimile como virtudes fundamentais
a prudência
a fortaleza
a temperança
a justiça
proclamadas por Platão e que são as virtudes morais em sentido próprio
Admite determinadas virtudes supremas ou teologais 

Esperança
Caridade
As fundamentais regulam as relações entre os seres humanos e são, por isto, virtudes em escala humana.
As teologais regulam as relações entre o ser humano e Deus e são, por conseguinte, virtudes em escala divina.

ÉTICA RELIGIOSA – MISSÃO SANTIFICADORA

O cristianismo pretende elevar o ser humano de uma ordem terrestre para uma ordem sobrenatural, na qual possa viver uma vida
plena, feliz, e verdadeira, sem as imperfeições, as desigualdades e injustiças terrenas.
Propondo a solução de graves problemas do mundo num mais além, o cristianismo introduz uma idéia de uma enorme riqueza moral:
a da igualdade dos seres humanos.
Todos os seres humanos sem distinção
escravos e livres, cultos e ignorantes
são iguais diante de Deus e são chamados a alcançar a perfeição e a justiça num mundo sobrenatural.

ÉTICA RELIGIOSA – IGUALDADE IMATERIAL

A mensagem cristã da igualdade é lançada num mundo social em que os seres humanos conhecem a mais espantosa desigualdade:
a divisão entre escravos e seres humanos livres, ou entre servos e senhores feudais. 
A ética cristã medieval não condena esta desigualdade social e chega, inclusive, a justificá-la.
A igualdade e a justiça são transferidas para um mundo ideal, enquanto aqui se mantém e se sanciona a desigualdade social.

ÉTICA RELIGIOSA – IGUALDADE IDEALIZADA

A mensagem cristã carecia de efetividade e cumpria somente uma função social justificativa?
O problema deve ser enfrentado nas condições histórico-sociais de seu tempo.
Não se pode dar uma resposta simplista.
O cristianismo deu aos seres humanos, pela primeira vez, incluindo os mais oprimidos e explorados
A consciência da sua igualdade
Exatamente quando não existiam as condições reais de uma igualdade efetiva
Passa historicamente por uma série de eliminações de desigualdades concretas 
políticas, raciais, jurídicas, sociais e econômicas

FILOSOFIA DA COMPENSAÇÃO

Na Idade Média
A igualdade só podia ser espiritual
Uma igualdade para o amanhã num mundo sobrenatural
Uma igualdade efetiva
Limitada no nosso mundo real à algumas comunidades religiosas.
Por isto, tinha de coexistir necessariamente com a mais profunda desigualdade social
Enquanto não se criassem as condições sociais para uma igualdade efetiva.
A mensagem cristã tinha um profundo conteúdo moral na Idade Média
Quando era completamente ilusório e utópico propor-se a realização de uma igualdade real de todos os seres humanos.

ÉTICA RELIGIOSA – IGUALDADE IDEALIZADA

A ética cristã tende a regular o comportamento dos seres humanos com vistas a outro mundo.
A uma ordem sobrenatural
Colocando o seu fim ou valor supremo fora do ser humano
Em Deus.
Para a ética cristã
a vida moral alcança a sua plena realização somente quando o ser humano se eleva a esta ordem sobrenatural
os mandamentos supremos que regulam o seu comportamento
e dos quais derivam todas as suas regras de conduta
procedem de Deus e apontam para Deus como fim último.
O cristianismo como religião oferece assim ao ser humano certos princípios supremos morais que
por virem de Deus
têm o caráter de imperativos absolutos e incondicionados.

A ÉTICA CRISTÃ FILOSÓFICA

O cristianismo não é uma filosofia, mas uma religião
Uma fé e um dogma
Apesar disto, faz-se filosofia na Idade Média para esclarecer e justificar, lançando mão da razão, o domínio das verdades reveladas ou para abordar questões que derivam das (ou surgem em relação com as) questões teológicas.
A filosofia é serva da teologia.
Subordinando-se a filosofia à teologia
se subordina a ética.
ética limitada pela sua índole religiosa e dogmática.
Nesta elaboração conceitual dos problemas
filosóficos 
em geral
Morais
em particular
aproveita-se a herança da Antiguidade
Platão (através da leitura de Plotino – neoplatônico)
Aristóteles (através de Averróis e Avicena - árabes
submetendo-os respectivamente a um processo de cristianização.
Este processo transparece especialmente na ética
Santo Agostinho (354-430)
Santo Tomás de Aquino (l226-1274).

A ÉTICA CRISTÃ FILOSÓFICA - AGOSTINHO

A purificação da alma, em Platão, e a sua ascensão libertadora até elevar-se à contemplação das idéias, transforma-se em Santo Agostinho na elevação ascética até Deus, que culmina no êxtase místico ou felicidade, que não pode ser alcançada neste mundo.
Contudo, Santo Agostinho se afasta do pensamento grego antigo ao sublinhar o valor da experiência pessoal, da interioridade, da vontade e do amor.
A ética agostiniana se contrapõe, assim, ao racionalismo ético dos gregos.

A ÉTICA CRISTÃ FILOSÓFICA- ESCOLÁSTICA
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"Os caminhos de inspiração aristotélica levam até Deus".
No século VIII, Carlos Magno resolveu organizar o ensino por todo o seu império e fundar escolas ligadas às instituições católicas.
A cultura greco-romana, guardada nos mosteiros até então, voltou a ser divulgada, passando a ter uma influência mais marcante nas reflexões da época.
Era a renascença carolíngia.
Tendo a educação romana como modelo, começaram a ser ensinadas as seguintes matérias:
gramática, retórica e dialética (o trivium )
geometria, aritmética, astronomia e música (o quadrivium ).
Todas elas estavam, no entanto, submetidas à teologia.
A fundação dessas escolas e das primeiras universidades do século XI fez surgir uma produção filosófico-teológica denominada escolástica (de escola).

A ÉTICA CRISTÃ FILOSÓFICA - ARISTOTELISMO

AVERRÓIS   E     AVICENA
A partir do século XIII, o aristotelismo penetrou de forma profunda no pensamento escolástico, marcando-o definitivamente. 
Isso se deveu à descoberta de muitas obras de Aristóteles, descobertas até então, e à tradução para o latim de algumas delas, diretamente do grego.
A busca da harmonização entre a fé cristã e a razão manteve-se, no entanto, como problema básico de especulação filosófica.
O período escolástico pode ser dividido em três fases:
Primeira fase - (do século IX ao fim do século XII):
Caracterizada pela confiança na perfeita harmonia entre fé e razão.
Segunda fase - (do século XIII ao princípio do século XIV):
Nesta fase, considera-se que a harmonização entre fé e razão pôde ser parcialmente obtida.
Caracterizada pela elaboração de grandes sistemas filosóficos, merecendo destaques nas obras de Tomás de Aquino.
Terceira fase - (do século XIV até o século XVI):
Decadência da escolástica, caracterizada pela afirmação das diferenças fundamentais entre fé e razão.

A ÉTICA CRISTÃ FILOSÓFICA - TOMISTA

A ética tomista coincide nos seus traços gerais com a de Aristóteles, sem esquecer, porém que se trata de cristianizar a sua moral como, em geral, a sua filosofia.
Deus, para Santo Tomás, é o bem objetivo ou fim supremo, cuja posse causa gozo ou felicidade, que é um bem subjetivo (nisto se afasta de Aristóteles, para quem a felicidade é o fim último).
Mas, como em Aristóteles, a contemplação, o conhecimento (como visão de Deus) é o meio mais adequado para alcançar o fim ultimo.
Por este acento intelectualista,aproxima-se de Aristóteles.
Na sua doutrina político-social, atém-se à tese do ser humano como ser social ou político, e, ao referir-se às diversas formas de governo, inclina-se para uma monarquia moderada, ainda que considere que todo o poder derive de Deus e o poder supremo caiba à Igreja.

TODAS AS IMAGENS FORAM RETIRADAS DA INTERNET - GOOGLE IMAGENS

BIBLIOGRAFIA

DUBY, George .Heloísa, Isolda e outras damas no século XII. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Filmes:
TÍTULO DO FILME: O NOME DA ROSA (The Name of the Rose, ALE/FRA/ITA 1986)
DIREÇÃO: Jean Jacques Annaud
ELENCO: Sean Conery, F. Murray Abraham, Cristian Slater. 130 min, Globo Vídeo

TÍTULO ORIGINAL: THE MAGDALENE SISTERS
Tempo de Duração: 119 minutos
Ano de Lançamento (Inglaterra): 2002
Site Oficial: www.miramax.com/the_magdalene_sisters
Distribuição: Miramax Films / Europa Filmes
Direção: Peter Mullan
Produção: Frances Higson
 Título: EM NOME DE DEUS
Titulo Original: Stealing Heaven
Gênero: Drama, Romance
Duração: 108 miN
Ano: 1988
Direção: Clive Donner

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