sexta-feira, 14 de maio de 2010

As escolhas e as memórias


Sou uma pessoa muito ligada aos sonhos, pois eles representam situações como respostas a dilemas, a realização de desejos ou a previsão de situações angustiantes... enfim... me são comuns sonhos para aprender, me alimentar de saudades e me assustar com as teimosias do meu ser...
Essa semana sonhei com uma engenhosa e surreal alegoria. Meu corpo nu (deve ser porque durmo assim) foi jogado num espaço que se faz, enquanto é feito se desfaz, num eterno devir, ou seja, ele se faz e em seguida já se torna passado, como uma construção cinematográfica, em fragmentos que dão à falsa idéia de continuidade.
Jogada em um caleidoscópio/prisma de portas, onde a cada porta que adentrava encontrava numa sala, além do conteúdo da minha escolha, outra saleta com mais portas, com cheiros, cores ou imagens sugestivas da imagem imediatamente encontrada... e indefinidamente tinha que escolher portas para trocar de cômodo/tempo pois o espaço onde me encontrava ia se desintegrando com o passar do tempo, jamais poderia permanecer, a cada segundo, quanticamente, minha intuição inata, dentro das opções da minha percepção e memória - que arrastamos dos objetos ausentes para busca-los no auxílio não só as novas escolhas a convivência e adaptação com o imediato escolhido, reconhecendo as escolhas repetidas e, caso contrário, sabendo decodificar as novas escolhas, as novas imagens, sempre associadas ao já vivido... vivenciado... intuído - me lembrava de olhar as portas e escolher, não tinha como voltar, não tinha pra onde voltar, sempre novas sugestões, nunca sabendo a quais portas cada nova porta escolhida disporia para a "degustação", carregando a memória das portas anteriores, que permitisse dar sentido ao que conhece, mesmo sendo novo, velho lhe parece, são dobras ou justaposições do passado ao presente, como fios das Moiras, fui percebendo que a duração era efêmera, de tudo, de todos, a cada instante, mesmo que escolhesse uma porta que representasse uma imagem semelhante a que estava vivendo, novos e inesperados elementos surgiam; o inesperado diante de cada passo, de cada decisão me levou a um cansaço e na repetição da contínua e interminável abertura de portas levou-me ao desgaste material do corpo/sentidos/sensações; detalhes começaram a escapar às escolhas, confusão e enfado, até que deixei as alternativas a cargo do vento (caso este quisesse abrir alguma porta), da sorte, do acaso ou da necessidade da pressão do meu corpo a porta (devido a encolha do tempo, interpenetração)...
Acordei presa ao edredom e ao abrir os olhos, desprendendo-me da prisão do leito, dolorida pela trama do tecido, quente e suada pela luta corporal com Jung e Heidegger, senhores dos sonhos, a sensação de escolha permanecia: livre no mecanicismo imanente ou alienada na arrogância de uma possível liberdade absoluta (banho... café... terninho... alimentar os peixes... e ...)

3 comentários:

  1. Muito duro seu sonho, só portas e pareces, sem pessoas, frio, rígido, mecânico. Parece mais um filme de ficção científica e você um cyborg.

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  2. Por que não abre logo umas 3 portas e vê no que dá? Opinião do amigo, não do terapeuta.

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  3. Concordo, mas já falamos sobre isso... pretendo retomar esse e outros pontos que não ficaram bem costurados... já estou parecendo uma "Emília" da década de 80 rsrsrsrsrs

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